terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sinais





Se eu for fazer todas as minhas vontades
Eu te procuro
Se eu for realizar todos os meus desejos
Eu me entrego
Houve um tempo que eu pensei que ia te esquecer
Mas esse tempo passou e você me vem
Eu imploro que te esqueça
Já pedi a Deus, aos orixás
Na verdade eu quero que venha
Quero que me mate a sede
Não quero esquecer
Quero lembrar
Me entregar
Fazer tudo de novo, colocar a prova
Saber até onde vai
Eu quero você
Eu quero ligar
Fazer sinal de fumaça
Mas não posso
Não sei se ainda me quer
Se pensa em mim
Se quer saber como estou
É tanta falta que faz
Era tão bom saber que eu ia te ver
E agora o que me resta é esperar
Quem sabe ?

domingo, 16 de agosto de 2009

Vento



Eu sou meio assim. Meio de vento. Essa menina da cabeça de vento. Eu. Nem mesmo sei porque, mas o meu olhar hoje resolveu mudar. E eu olhei para o outro lado da rua e vi alguém passar. Passou um vento e mudei meu destino. Não é preciso escolher um caminho. Não vou para nenhum dos dois lados. Talvez meu desejo seja parar. Parar o tempo e deixar fluir meu vento. A tempestade que não demora muito vem. Essa menina da cabeça de vento que teimo em não deixar ir. Teimo em não obedecer. As fases da lua são poucas. Se eu pudesse domar. Ah não seria divertido ver ela passar se não fosse assim. Meio assim, do jeito que ela vai e muda de calçada o tempo todo. E não sabe se prefere o sol ou a lua. Se estou com frio ela compra sorvete e se eu estou com calor ela traz um casaco. Se quero beijo, ela me dá um abraço. Se eu quero esquecer, ela teima em lembrar. E se eu quero dormir, ela quer dançar. E se ela sempre aparece nos meus sonhos meio assim. Eu lembro que ela está dentro de mim. Essa menina da cabeça de vento.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Oh dor!

Oh dor! Da mãe que perde um filho; do filho que perde o pai. Da namorada que perde a sua metade. Do amor que se perde por aí. Que vida! Que parece maldita para o menor que transita pelos becos escuros dessa cidade partida. Que morte! Que parece tão bonita para os que vivem à toa pela vida procurando uma saída para uma fome doída. E a dor que corrói até a alma do pai que viu sua filha em pedaços pela avenida. E ele tentou juntar os pedaços e gritou bem alto pedindo à Deus que o levasse também. E o medo da mãe que se despede do filho e chega a dar arrepio quando ele atravessa a rua para ir trabalhar. Já não há lugar para tantas velas em cima da geladeira, tantas orações e desabafos. E implora-se paz. Pois não há mais lugar para a dor. Acabou. Não agüento mais ver os seus pés descalços no chão quente. Não agüento mais ver sua ferida sendo tratada como lixo. Não agüento mais ver a minha criança perdendo sua inocência na mão de pedófilos. Desgraçados. Não agüento mais a bala enterrada no seu pescoço. Saudade. Não agüento mais ver seus pedaços estirados pelas estradas. Pra onde vão seus sonhos? Não agüento mais ver você sofrer. E chorar pelo seu namorado que prometeu que iria voltar e não voltou. Não agüento mais ver você matar para roubar um celular. Pra que tudo? Não quero mais ver você pedindo esmola. Não quero mais ver você cheirando cola. E dormindo na rua, sentindo frio, fome e sede. Carinho. Chega. Não quero dor. Do amor que se perde por aí. E o perdão vai ter que ficar pra depois ou talvez para nunca mais. Porque ele não vai voltar.



Por que?

Por que falar de dor? Cada palavra escrita faz parte da minha lembrança, nova ou velha. Tudo que eu já vivi e vi. Tudo que já escutei. De todas as lágrimas que eu já vi cair,minhas ou não. Cada fato narrado já aconteceu e eu consigo me lembrar como em flashbacks. Eu ando, ando, ando muito. E observo, pergunto.Mais observo do que pergunto, sendo sincera. Mas o que eu tenho guardado de tudo isso está se transformando em palavras. O texto é pequeno, mas têm milhões de histórias. Histórias com nome, sobrenome e endereço. E não precisa nem ler jornal, é só começar a prestar atenção quando caminhar pela rua.

Créditos da foto: Marcos Tristão

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Antes de morrer



Antes de morrer - Ovomaltine, por favor?

O difícil foi chegar onde cheguei.
Subi 18 andares pela escada para não levantar suspeitas.
Dei bom dia para os 15 seguranças que encontrei pelo caminho.
E para chegar ao ponto onde seria mais espetacular meu salto atravessei fios de alta tensão. Tropecei nas antenas, desviei dos alarmes e pronto.
Lá estava eu pronta para voar.
Eu não tinha asas como os pássaros e sabia que meu vôo seria direto ao chão.
Senti um arrepio na espinha ao imaginar as sirenes e helicópteros das televisões super sensacionalistas que iriam fazer do meu simples pulo pauta para a semana inteira.
Logo eu que não fui nem a metade de um pop star.
Eu olhei para baixo algumas vezes e até ensaiei como seria minha posição na cena do crime.
O lago de sangue que me cercaria era como o esmalte que eu usava todo dia. Era minha cor preferida.
E lá estava eu entre o ir e não ir.
Tomei coragem e senti que estava pronta. Mas senti um vento soprar meu cabelo e recuei. Não tive coragem. Pensei então em ligar para a polícia para quem sabe sentir coragem de me jogar. Droga! Esqueci meu celular. Mas eu já estava lá e o dia estava tão bonito. Chuva como eu gostava. Já estava molhada e sabia que se não terminasse ali o máximo que iria conseguir era um resfriado. Um resfriado sem ninguém pra cuidar. Silêncio. Lembrei de quem amava, de quem me amava.
Lembrei de quem odiava, de quem me odiava. Lembrei do café que eu tomei. Lembrei do motorista do 110. Lembrei do garoto que eu nem conheço, mas me dá bom dia toda manhã. Lembrei do jornaleiro. Lembrei do jornal. Lembrei do MSN e do Orkut. E pensei o que seria dele sem mim, quem responderia meus recados, quem atualizaria minhas fotos. Que fotos? Quem tiraria minhas fotos? As fotos dos lugares vazios que eu não fui. Quem terminaria de ler o livro sobre cultura? Quem iria andar por mim. Eu me lembrei do terminal e das pessoas que esbarravam em mim. Lembrei do cheiro de pipoca. Lembrei até do Ovomaltine. Lembrei do meu crachá. Onde está o meu crachá? Mas eu tenho que avisar que não estarei aqui. Avisar que amanhã os jornais vão atestar que eu não pude estar. E eu já olho para baixo naturalmente. Perdi o medo de altura. Agora só falta cair. São 18 andares. Será que alguém verá minha sombra passar. E eu já ouço as sirenes e os carros da polícia, estão lá embaixo. Uma multidão me espera. Espera meu salto. Dá pra ouvir o burburinho.Será que ela vai se matar? E nessa hora um impulso absurdo me tomou. Fechei os olhos. De repente uma mão me agarrou. E a multidão gritou. E uma lágrima escorreu pelos meus olhos. Suspiro. Ainda bem que eu não morri pelo menos vou poder atualizar meu blog, pensei.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Eu não uso salto alto!


Eu não uso Salto Alto!

É isso mesmo, nada de roupinha apertada e salto 15.
Eu sou mulher, sei por que vim. Pra ser mulher não precisa fingir que não sabe
abrir uma lata de azeitona, não precisa fingir ser fraca só pra ser abraçada.
Eu tenho alma feminina, mas eu não saio por ai chorando pelos cantos pedindo um colo.
Eu não preciso de salto pra ser mulher, eu não preciso dar para o primeiro cara que aparecer pra ser mulher.
Eu não preciso trocar de namorado a cada três meses pra dizer que sou feliz.
Felicidade barata, comprada. Eu não gosto de mulherzinha, das que dizem que gostam de rosa só pra não fugir da regra. Quebro as regras. Eu não quero saber de ter que passar batom a cada 15 minutos para agradar.
Eu não preciso trocar confidências sexuais para dizer que sou mulher.
Nenhum blush ou lápis vai me fazer ficar melhor do que sou. Eu não preciso de descartáveis para me sentir agradável. Siliconadas e cheias de tatuagem saem pro aí desfilando desejos enquanto lá dentro chora uma criança carente.
Demente. Enquanto você se entope de cremes caros do outro lado do mundo têm crianças morrendo de fome querendo comer os seus restos. Cabeça fraca e corpo elástico. Eu não preciso dar um tapa para ficar zen. Eu não preciso ser zen para ser mulher.
Eu não sou mulher porque nasci com vagina e mestruo a cada mês. Eu sou mulher porque eu enfrento meus medos com a cara lavada e não recheada de pó iluminador importado.
Eu sou muito mulher para admitir que eu engulo meus defeitos e descarto seus acertos infantis. Eu encaro a mentira frente a frente e não preciso fingir que gosto de você.
Eu sou muito mulher para dizer que eu acho o seu jeito estúpido, a sua roupa volátil, o seu temperamento fugaz, o seu estilo copiado de capa de revistas japonesas e a sua mente
é tão pequena quanto um grão de arroz. Mulher, não precisa colocar saia curta e desfilar por aí como se fosse a última bolacha do pacote. Homens, invista na consciência, na mente, no toque e nas palavras.
Pra que desperdiçar suas pernas usando salto fino só para agradar, se no fim da noite você vai estar com dor. Vale a dor? Vale nada. Vale-Motel no final da madrugada.
E aí no outro dia você vai ficar se lamentando por ser tão fútil. Não, eu não sou contra esse tipo de alegria.Imagina!? O problema é achar que só é mulher quem segue esse tipo de regra.
Eu gosto de bola, eu gosto roupas confortáveis, eu falo a verdade mesmo que doa, eu não uso salto, eu uso tênis com saia e eu sou mulher. Muito mais mulher do que algumas plastificadas por aí.